O que me fez virar a chavinha para aprender Inglês?
Sabe aquela pessoa que achava que NUNCA conseguiria aprender inglês? Essa pessoa era eu há pouco tempo atrás.
Falar Inglês nunca foi um grande objetivo no passado, aliás, era uma das minhas piores notas na escola. Minha primeira aula da inglês privada foi com 15 anos na CCAA e meses depois mudei para a FISK, onde fiquei mais um ano. Eu achava que estava aprendendo alguma coisa, mas as aulas eram sempre baseadas em tradução e gramática. Eu também não tinha vontade nenhuma de estar lá, então fica meio difícil aprender assim.
Em 2014, o Rafa fez um intercâmbio na Inglaterra através do Programa Ciências Sem Fronteiras e estudando muito todo dia ele conseguiu uma nota razoável para vir. Aquele esforço dele me inspirou e ali que comecei a ter o primeiro interesse na língua. Em julho de 2014 o visitei na Inglaterra - por sinal, era minha primeira viagem internacional - e percebi que eu não sabia NADA além de cores, cumprimentar e falar que sou do Brasil. Quando eu voltei dessa viagem eu percebi que o inglês poderia me abrir muitas portas, mas não só para carreira e sim para a vida. Eu me apaixonei por tudo que aquela viagem me proporcionou que eu sabia que ia desfrutar muito melhor se eu dominasse a língua. Nessa viagem de apenas 1 mês eu também aprendi muito mais do tinha aprendido naquelas escolas.
Os anos passaram e eu comecei a ter mais interesse pela língua, mas não tinha muito esforço da minha parte. Até que em 2017 nos mudamos para a Alemanha. E convenhamos que alemão não é nada fácil, mas todo mundo dizia que eu não precisava me preocupar porque ‘‘na Alemanha todo mundo falava inglês’’ (eu ria, só que de nervoso pois não sabia nem uma e nem outra). A história de que todos falam Inglês é parcialmente verdade. De fato, a maioria fala, mas se eu vou viver num país diferente, o mínimo é eu, pelo menos, me esforçar para aprender a língua local. Fora que o meu inglês era bem “the book is on the table”. Resolvi tentar aprender alemão. Fiz um curso de 5 meses intensivo. Eram 3h por dia, 4 dias na semana. Eu aprendi o básico, mas para quem não sabia absolutamente nada, até que deu para o gasto.
Até que muita coisa começou a acontecer. Eu estava totalmente sem propósito, infeliz com a minha vida na Alemanha e já estávamos planejando nossa mudança para a Inglaterra. Decidi que antes de me mudar, eu iria mergulhar na cultura alemã. Eu queria um trabalho que eu pudesse falar mais e adotar costumes que eles têm para minha vida. Em Abril de 2018 me candidatei para uma vaga de auxiliar de dentista numa clínica da cidade. A vaga dizia que não precisava de experiência nenhuma e que era preciso falar um pouco de inglês e não era necessário falar alemão. Me candidatei e consegui, com meu inglês péssimo (inclusive, o dono da clínica falou isso na minha cara no dia da entrevista).
Trabalhar nessa clínica foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz na vida. Foram 6 meses trabalhando lá, escutando alemão todo dia e usando todo meu cérebro para responder em Inglês quando eles achavam que eu entenderia melhor nessa língua. Agora imagina toda esse cenário juntamente com o barulho de consultório de dentista (aquela máquina de barulho insuportável) + máscaras.
Ter uma rotina nessa situação, juntando com o fato de que meus chefes exigiam muito que eu falasse o mínimo de alemão e um nível considerável de inglês, eu comecei a prestar muito atenção para não errar e percebi que eu estava evoluindo muito mais na língua do que naquela escola de alemão e de todos os meus aprendizados em inglês que tive até então.
Seis meses depois quando pedi a demissão (tudo em alemão, e eu entendia uma coisa ou outra), meus chefes que sempre julgaram meu inglês e alemão finalmente elogiaram a minha evolução. Falaram o quão impressionante era eu ter evoluído em tão pouco tempo. Eu sei que me esforcei. Eu prestava muito atenção em tudo, repetia o que eles falavam e isso me ajudou a memorizar muitas coisas.
Uma chavinha virou na minha cabeça: para aprender uma língua nova, eu precisava ser obrigada a falar e vivenciar de fato as situações que me exponham à língua.
Depois desse emprego, eu perdi a vergonha de pedir as coisas e receber um ‘‘não’’. Chegando na Inglaterra, eu já mandei e-mails com meu currículo para vários hospitais de Londres para voltar a atuar como fono.
No e-mail, eu expliquei minha situação e fui sincera sobre meu inglês básico. Pedi para observar as clínicas de audiologia, minha área de atuação dentro da fonoaudiologia. Até que o gerente de um hospital respondeu dizendo que eu poderia ir observá-los por apenas dois dias.
Em Janeiro de 2019 lá estava eu. Eu aprendi tanta coisa naqueles dois dias, coisas que escola nenhuma iria me oferecer. Mal conseguia me comunicar, mas entender como eram os termos em inglês num assunto que eu dominava foi ótimo. Me convidaram para uma entrevista. Eu prestei e fui PÉSSIMA. Mas alguma coisa em mim chamou atenção e eles falaram “a gente acha legal que você está tentando, quer observar mais duas semanas?”. Claro que sim! Duas semanas de muito aprendizado. A sensação era que meu cérebro estava fritando. Eu chegava exausta em casa e ia dormir as 19h30 de tão cansada.
Depois das duas semanas, esse gerente falou “o que você acha de prestar alguns serviços para a gente?” Eu: “claro!”. E assim eu fui ficando e cada dia eu aprendia algo novo. Eu era muito acompanhada no começo, falava bastante coisa errada, mas o conhecimento estava certo. Cada erro que me corrigiam, era mais uma coisa memorizada na minha cabeça.
Passaram-se três meses, tive outra entrevista, para a vaga permanente. Prestei de novo e não passei. Mas continuei prestando serviço da mesma forma.
O inglês foi ficando cada vez mais natural, mas eu tinha uma mania de pedir desculpa pelo meu meu nível de conhecimento na língua. Lembro de uma vez que tive uma paciente que estava muito emocionada porque não aceitava sua perda auditiva. E a acolhi, como faria com qualquer paciente. Peguei na mão dela, expliquei tudo o que estava acontecendo. Ela olhou para mim e disse “você deveria parar de pedir desculpa pelo seu inglês. O médico que me atendeu é Inglês e não explicou 1% do que você me explicou aqui. Estou me sentindo acolhida pela 1a vez”.
Depois desse dia eu nunca mais pedi desculpa pelo meu inglês. Eu estava definitivamente aprendendo. Ser obrigado a falar te faz evoluir na língua.
Em fevereiro de 2020, prestei a entrevista pela 3a vez. Dessa vez eu passei. Vcs devem imaginar o quanto isso significou para mim.
Se comunicar em outra língua é um ato de resiliência. Principalmente aprender depois de adulto.
Essa história não tem fim, eu continuo aprendendo todos os dias.